sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Bach - BWV 243: Magnificat!


(Botticelli - Magnificat)

O Magnificat, BWV 243, foi escrito para dois sopranos, contralto, tenor, baixo, coro a 5 vozes e orquestra. A versão original foi composta  em 1723, no primeiro Natal de Bach em Lipzig, com vários textos natalinos e na tonalidade de Mi sustenido maior. Nos anos seguintes, Bach suprimiu os textos natalinos, deixando apenas o do Magnificat, e transpôs para Ré maior -- tonalidade em que os trompetes obtém uma melhor sonoridade. Assim estreou, em 1733, a peça que é a segunda maior obra de Bach em latim -- perdendo apenas para a Missa em Si Menor.

O Magnificat é um canto de louvor, de exaltação da misericórdia divina. Maria, ao mesmo tempo que reconhece sua grandeza, ou, melhor dizendo, se vê engrandecida pelo Senhor, coloca-se numa posição de humildade, de serva.  Isso Bach traduz em música e, para tanto, se utiliza do contraste, uma característica do barroco. Desse modo, movimentos alegres e introspectivos se alternam e nos colocam diante da beleza, da grandeza, da humildade, da bondade... A peça começa com um canto melismático do coral, ressaltando a palavra magnificat, que significa engrandece. Mais adiante, é de chamar a atenção, no duo Et misericordia, como Bach transmite a doçura, a beleza comovente, da Misericórdia Divina.
Poderíamos esperar que, por ser o canto de Maria, o Magnificat tivesse sido composto apenas para soprano, ou contralto, enfim, para uma voz feminina, e não para cinco vozes mais coro. Estaríamos nos esquecendo, porém, de algo do qual Bach não se esqueceu: o Magnificat canta a exaltação não somente de Maria, mas de todos os humildes, canta o cumprimento da Aliança, a Misericórdia que perdura por todas as gerações. É, pois, o canto de todos.




Às margens do Danúbio, na cidade de Melk, na Áustria, está o belo e grandioso mosteiro, originalmente construído, no século X, para ser um castelo. De importância religiosa, histórica e cultural, a abadia inspirou Humberto Eco na criação de seu grande romance O Nome da Rosa. No ano 2000, que marcou os 250 anos da morte de Bach, o maestro Nicolaus Harnoncourt, especialista em música antiga, o Coro Arnold Schönberg, Christine Schäfer e Anna Korondi (sopranos), Bernarda Fink (alto), Ian Bostridge (tenor) e Christopher Maltman (barítono) subiram as escadarias da histórica abadia para realizar um concerto com as cantatas BWV 61 (cujo vídeo foi aqui postado no primeiro domingo do advento), 147 e 243, o Magnivicat.
Nos vídeos abaixo, com olhos e ouvidos envoltos por profunda beleza, somos convidados a entrar na abadia, tomar nossos lugares e cantar este hino de louvor junto com Bach e Maria.  


Evangelho segundo São Lucas, 1,39-55
Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”.

Maria então disse:


Magnificat anima mea Dominum.
A minha alma engrandece o Senhor 



Et exsultavit spiritus meus in Deo 
salutari meo
E meu espírito se alegra em Deus, 
meu Salvador




Quia respexit humilitatem ancillae suae;
ecce enim ex hoc beatam me dicent

Omnes generationes.

Porque ele olhou para a humildade de sua serva. 
De agora em diante, me chamarão feliz

Todas as gerações.


Quia fecit mihi magna qui potens est, 
et sanctum nomen eius.
porque o Poderoso fez para mim coisas grandiosas,
e seu nome é santo,


Et misericordia a progenie in progenies timentibus eum.
E sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 


Fecit potentiam in brachio suo, 
dispersit superbos mente cordis sui.
Ele mostrou a força de seu braço,
dispersou os que tem planos orgulhosos no coração. 


Deposuit potentes de sede et exaltavit humiles.
Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.


Esurientes implevit bonis 
et divites dimisit inanes.
Encheu de bens os famintos, 
e mandou embora os ricos de mãos vazias.


Suscepit Israel puerum suum recordatus misericordiae suae.
Acolheu Israel, seu servo, 
lembrando-se de sua misericórdia,


Sicut locutus est ad Patres nostros,
Abraham et semini eius in saecula.
Conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”.


Gloria Patri, 
gloria Filio,
gloria et Spiritui Sancto!
 Sicut erat in principio et nunc et semper
et in saecula saeculorum.

Amen.

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