terça-feira, 27 de outubro de 2009

Haydn: Stabat Mater




Nesta noite vienense, São Paulo receberá a visita da Wiener Akademie, no encerramento da temporada 2009 do Cultura Artística. Da programação destacamos o Stabat Mater de Haydn.

A bela sequência católica Stabat Mater foi composta na idade média (século XIII), para ser cantado com duas melodias distintas do canto gregoriano. O poema nos coloca diante de Maria, a Mãe de Jesus, contemplando seu filho crucificado. Nos fala da dor da Mãe, que sentia uma espada transpassando-lhe a alma. Nos convida a participar de seu sofrimento, a nos emocionarmos diante de tamanho suplício. O autor lembra que todo o sofrimento de Cristo e, consequentemente, o de Maria, foi por causa de nossos pecados -- pelos pecados de seu povo. O autor, então, inicia uma série de súplicas a Maria, para que interceda por ele junto a seu filho, para que as chagas de Cristo se imprimam em seu coração e o amoleçam, que participe de sua Paixão, que esteja chorando com ela, junto à cruz. Finalmente, o autor pede a intercessão de Maria para que o livre do fogo do inferno e sua alma alcance a glória do Paraíso.

Existem mais de 400 versões do Stabat Mater, compostas por compositores como Vivaldi, Scarlatti, Dvorak, Rossini, Pergolesi, Haydn e tantos outros. Porém, à época de Haydn parece que não fazia parte da tradição vienense. A música entrou na vida do austríaco Joseph Haydn (1732-1809) durante sua infância, no coro da Catedral de St Stephen que o compositor começou suas lições musicais. Foi, também, na Stephendom que ele começou a tocar e improvisar ao órgão. A música sacra continuou presente em sua vida como compositor: foram 14 missas e 6 oratórios. O primeiro oratório foi Stabat Mater, composto em 1767. Foi a primeira peça de Haydn a fazer sucesso, foi a peça que o projetou como compositor e, o que era raro na época, foi impressa ainda durante sua vida. Stabat Mater é para quarteto solista -- soprano, mezzosoprano, tenor e barítono --, coro e orquestra de cordas, madeiras e baixo contínuo. Tem duração de um pouco mais de 1 hora.

Tenor e coro

Stabat Mater dolorosa
iuxta Crucem lacrimosa
dum pendebat Filius;
cuius animam gementem
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.

Estava a mãe dolorosa junto da cruz, lacrimosa, de onde pendia seu Filho. Sua alma gemente, entristecida e pesarosa, atravessava uma espada.

Mezzosoprano

O quam tristis et affl icta
fuit illa benedicta
Mater Unigeniti!
Quae maerebat — et dolebat,
et tremebat — dum videbat
nati poenas incliti.

Ó, quão triste e aflita,
estava ela, bendita
Mãe do Unigênito!
Como suspirava — e gemia,
e tremia — ao ver
as penas de seu Filho divino.

Coro

Quis est homo qui non fl eret,
Christi Matrem si videret
in tanto supplicio?

Quem não haveria de chorar
Ao ver a Mãe de Cristo
em suplício tamanho?

Soprano

Quis non posset contristari
piam Matrem contemplari
dolentem cum Filio?

Quem não se entristeceria
ao contemplar a Mãe de Cristo
a padecer com o Filho?

Barítono

Pro peccatis suae gentis
vidit Iesum in tormentis
et fl agellis subditum.

Pelos pecados de seu povo
via Jesus em tormento
submetido ao flagelo.

Tenor

Vidit suum dulcem natum
moriendo desolatum,
dum emisit spiritum.

Via seu doce Filho
morrendo, desolado,
a expirar por fim.

Coro

Eia Mater, fons amoris,
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.
Fac, ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum
ut sibi compaceam.

Faze-me, ó Mãe, fonte de amor,
sentir a força da tua dor
para que eu possa chorar contigo.
Faz arder meu coração
de amor por Cristo Deus,
para que eu possa agradá-Lo.


Soprano e Tenor

Sancta Mater, istud agas:
crucifi xi fi ge plagas
cordi meo valide.
Tui nati — vulnerati,
tam dignati — pro me pati,
poenas mecum divide.

Santa Mãe, faze que
as chagas do Crucificado
imprimam-se em meu coração.
De teu Filho ferido — que
por mim tanto padeceu —
divide as penas comigo.

Mezzosoprano

Fac me vere tecum fl ere,
Crucifi xo condolere,
donec ego vixero.
Iuxta Crucem tecum stare,
et me tibi sociare
in planctu desidero.

Faze-me contigo chorar,
sofrer com o Crucificado
enquanto vida eu tiver.
Quero estar contigo junto da cruz
e a ti me associar
em teu pranto.

Quarteto e coro

Virgo virginum praeclara,
mihi iam non sis amara,
fac me tecum plangere.
Fac ut portem Christi mortem,
passionis fac consortem,
et plagas recolere.
Fac me plagis vulnerari,
Cruce hac inebriari,
ob amorem Filii.

Virgem das virgens, preclara,
Não sejas comigo amarga,
deixa-me contigo chorar.
Deixa-me suportar a morte de Cristo,
de Sua Paixão ser consorte,
Suas chagas celebrar.
Que Suas chagas me fi ram,
Sua cruz me embriague
de amor por Ele.

Barítono

Flammis orci ne succendar
per te, Virgo, fac, defendar
in die iudicii.

Para que as chamas não me queimem,
defende-me, ó Virgem,
no dia do julgamento.


Tenor

Fac me cruce custodiri,
morte Christi praemuniri,
consoveri gratia.

Faze que me guarde a cruz,
Fortaleça-me a morte de Cristo,
Conforte-me Sua graça.



Soprano, mezzosoprano, coro

Quando corpus morietur,
fac ut animae donetur
paradisi gloria.

E quando meu corpo morrer
faze que minh’alma
alcance a glória do Paraíso.


Tutti

Paradisi gloria... Amen.

A glória do Paraíso... Amém.

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