Nesta noite vienense, São Paulo receberá a visita da Wiener Akademie, no encerramento da temporada 2009 do Cultura Artística. Da programação destacamos o Stabat Mater de Haydn.
A bela sequência católica Stabat Mater foi composta na idade média (século XIII), para ser cantado com duas melodias distintas do canto gregoriano. O poema nos coloca diante de Maria, a Mãe de Jesus, contemplando seu filho crucificado. Nos fala da dor da Mãe, que sentia uma espada transpassando-lhe a alma. Nos convida a participar de seu sofrimento, a nos emocionarmos diante de tamanho suplício. O autor lembra que todo o sofrimento de Cristo e, consequentemente, o de Maria, foi por causa de nossos pecados -- pelos pecados de seu povo. O autor, então, inicia uma série de súplicas a Maria, para que interceda por ele junto a seu filho, para que as chagas de Cristo se imprimam em seu coração e o amoleçam, que participe de sua Paixão, que esteja chorando com ela, junto à cruz. Finalmente, o autor pede a intercessão de Maria para que o livre do fogo do inferno e sua alma alcance a glória do Paraíso.
Existem mais de 400 versões do Stabat Mater, compostas por compositores como Vivaldi, Scarlatti, Dvorak, Rossini, Pergolesi, Haydn e tantos outros. Porém, à época de Haydn parece que não fazia parte da tradição vienense. A música entrou na vida do austríaco Joseph Haydn (1732-1809) durante sua infância, no coro da Catedral de St Stephen que o compositor começou suas lições musicais. Foi, também, na Stephendom que ele começou a tocar e improvisar ao órgão. A música sacra continuou presente em sua vida como compositor: foram 14 missas e 6 oratórios. O primeiro oratório foi Stabat Mater, composto em 1767. Foi a primeira peça de Haydn a fazer sucesso, foi a peça que o projetou como compositor e, o que era raro na época, foi impressa ainda durante sua vida. Stabat Mater é para quarteto solista -- soprano, mezzosoprano, tenor e barítono --, coro e orquestra de cordas, madeiras e baixo contínuo. Tem duração de um pouco mais de 1 hora.
Tenor e coro
Stabat Mater dolorosa iuxta Crucem lacrimosa dum pendebat Filius; cuius animam gementem contristatam et dolentem pertransivit gladius. | Estava a mãe dolorosa junto da cruz, lacrimosa, de onde pendia seu Filho. Sua alma gemente, entristecida e pesarosa, atravessava uma espada. |
Mezzosoprano
O quam tristis et affl icta fuit illa benedicta Mater Unigeniti! Quae maerebat — et dolebat, et tremebat — dum videbat nati poenas incliti. | Ó, quão triste e aflita, estava ela, bendita Mãe do Unigênito! Como suspirava — e gemia, e tremia — ao ver as penas de seu Filho divino. |
Coro
Quis est homo qui non fl eret, Christi Matrem si videret in tanto supplicio? | Quem não haveria de chorar Ao ver a Mãe de Cristo em suplício tamanho? |
Soprano
Quis non posset contristari piam Matrem contemplari dolentem cum Filio? | Quem não se entristeceria ao contemplar a Mãe de Cristo a padecer com o Filho? |
Barítono
Pro peccatis suae gentis vidit Iesum in tormentis et fl agellis subditum. | Pelos pecados de seu povo via Jesus em tormento submetido ao flagelo. |
Tenor
Vidit suum dulcem natum moriendo desolatum, dum emisit spiritum. | Via seu doce Filho morrendo, desolado, a expirar por fim. |
Coro
Eia Mater, fons amoris, me sentire vim doloris fac, ut tecum lugeam. Fac, ut ardeat cor meum in amando Christum Deum ut sibi compaceam. | Faze-me, ó Mãe, fonte de amor, sentir a força da tua dor para que eu possa chorar contigo. Faz arder meu coração de amor por Cristo Deus, para que eu possa agradá-Lo. |
Soprano e Tenor
Sancta Mater, istud agas: crucifi xi fi ge plagas cordi meo valide. Tui nati — vulnerati, tam dignati — pro me pati, poenas mecum divide. | Santa Mãe, faze que as chagas do Crucificado imprimam-se em meu coração. De teu Filho ferido — que por mim tanto padeceu — divide as penas comigo. |
Mezzosoprano
Fac me vere tecum fl ere, Crucifi xo condolere, donec ego vixero. Iuxta Crucem tecum stare, et me tibi sociare in planctu desidero. | Faze-me contigo chorar, sofrer com o Crucificado enquanto vida eu tiver. Quero estar contigo junto da cruz e a ti me associar em teu pranto. |
Quarteto e coro
Virgo virginum praeclara, mihi iam non sis amara, fac me tecum plangere. Fac ut portem Christi mortem, passionis fac consortem, et plagas recolere. Fac me plagis vulnerari, Cruce hac inebriari, ob amorem Filii. | Virgem das virgens, preclara, Não sejas comigo amarga, deixa-me contigo chorar. Deixa-me suportar a morte de Cristo, de Sua Paixão ser consorte, Suas chagas celebrar. Que Suas chagas me fi ram, Sua cruz me embriague de amor por Ele. |
Barítono
Flammis orci ne succendar per te, Virgo, fac, defendar in die iudicii. | Para que as chamas não me queimem, defende-me, ó Virgem, no dia do julgamento. |
Tenor
Fac me cruce custodiri, morte Christi praemuniri, consoveri gratia. | Faze que me guarde a cruz, Fortaleça-me a morte de Cristo, Conforte-me Sua graça. |
Soprano, mezzosoprano, coro
Quando corpus morietur, fac ut animae donetur paradisi gloria. | E quando meu corpo morrer faze que minh’alma alcance a glória do Paraíso. |
Tutti
Paradisi gloria... Amen. | A glória do Paraíso... Amém. |